
A propósito da realização da Assembleia Municipal em Cernache do Bonjardim, gostaria de abordar um assunto que sendo nesta Terra um grande pergaminho, é também uma das suas maiores preocupações – refiro-me ao Ensino e à sua importância socioeconómica. O brasão de Cernache do Bonjardim tem como símbolos heráldicos, uma cruz, um rio, e dois livros, em alusão ao seu filho mais ilustre - D. Nuno Álvares Pereira no caso da cruz flordelisada, sendo que a faixa ondeada de três tiras de prata representa a preponderância que o Rio Zêzere tem para a Freguesia, e dois livros - numa alusão ao ensino e à erudição, que simbolizam o valor que o Seminário das Missões e o Instituto Vaz Serra representam para toda esta região, “autênticos marcos da importância funcional no ensino e na cultura ao longo dos tempos e de muitas gerações”. Esta é a imagem fundamental com que a heráldica retrata os símbolos e a história da Freguesia e da Vila de Cernache do Bonjardim. Os valores históricos e o investimento que ao longo dos tempos foram sendo feitos por sucessivas gerações não podem ser deitados fora, antes devem ser preservados e valorizados. Sendo isto verdade em muitos setores, por maioria de razão também o é no setor da educação, no ensino. Investir no tecido económico e implementar medidas que promovam o crescimento demográfico e a natalidade são medidas que contribuirão seguramente para a continuidade e consolidação do ensino em Cernache do Bonjardim.
Em sentido contrário e sem ensino, Cernache do Bonjardim não terá futuro, ou sendo mais otimista, terá um futuro não muito risonho. Os casais constituem família, e os pais, a pensar nos seus filhos, constroem as suas habitações perto da escola e de estabelecimentos de ensino. Esta é a realidade que todos enfrentamos. Proximidade, é esta é palavra mágica e uma premissa fundamental. Sem ensino, tudo à volta definha. E esta é a preocupação que me assalta. A presença e o investimento do Estado em Cernache do Bonjardim são mínimos. Por isso, perder a oferta educativa, mesmo a que temos hoje, seria catastrófico para esta Terra. O ensino para nós é uma verdadeira âncora de progresso e absolutamente decisivo em termos socioeconómicos. Cernache do Bonjardim tem pouco emprego público, são mínimos os serviços públicos e o emprego que geram. Vale-nos o ensino como dinâmica e suporte das nossas “forças vivas”.
Vilas com a dimensão de Cernache do Bonjardim, por serem sede de concelho, têm à sua disposição todos os serviços do Estado, e orçamentos de uma ou duas dezenas de milhões de euros. Casos como Vila de Rei, Ferreira do Zêzere ou Figueiró dos Vinhos são bons exemplos do que digo. Falar nesta questão não é acicatar fantasmas do passado, é falar da realidade. A Vila de Cernache do Bonjardim e a sua União de Freguesias têm cerca de 300 mil euros para todo o seu território, onde se incluem obviamente, Nesperal e Palhais. Sintomático. É difícil a Cernache do Bonjardim manter padrões de progresso ou sequer almejar à pujança do passado, se em vez de adição de valor houver subtração de valências. Isto é também uma realidade. Não podemos ser uma terra com ambição se não definirmos uma linha coerente de crescimento e para isso o ensino é fundamental. O emprego público nas vilas com a nossa dimensão vem dos serviços de saúde, dos serviços e das forças de segurança, dos serviços de justiça, dos serviços do ensino, das corporações de bombeiros e proteção civil, dos serviços autárquicos e do municipalismo, entre outros. Se precisamos sempre de dinâmica da iniciativa privada no comércio, na indústria, nos serviços - na economia em geral, precisamos também que o Estado não nos abandone. Recentemente, fomos confrontados com uma nova realidade, com uma decisão do Governo com a qual teremos de conviver. Com a saída abrupta da Comunidade do Médio Tejo, o concelho da Sertã muito tem a perder. É uma convicção minha e que assumo. Mas é também minha convicção que Cernache do Bonjardim, particularmente, muito mais tem a perder porque perde a sua centralidade. Deixa de ser um território integrado e incluído num projeto coerente, onde a gestão da água da albufeira do Castelo de Bode, acessibilidades e turismo religioso são fundamentais, para passar a ser um território periférico e “fronteiriço”, sem influência nestes assuntos que muito lhe dizem respeito. Com esta decisão do Governo, Cernache do Bonjardim perde a dinâmica do turismo religioso de Fátima – um dos mais conceituados do mundo, que muito contribuiria para a afirmação do turismo religioso em torno da figura de S. Nuno de Santa Maria, perde a dinâmica que a CIM do Médio Tejo criou na albufeira do Castelo de Bode, perde influência na gestão turística e imobiliária da albufeira, e finalmente perde porque a Estrada Nacional 238 deixa de ser uma via prioritária e principal dentro da comunidade do Médio Tejo, voltando novamente a pairar a incerteza sobre esta justíssima pretensão da região. O Rio Zêzere passa a ser um autêntico muro invisível obstruindo a nossa ligação ao litoral e a níveis de progresso bem mais promissores. Não prevejo que estes assuntos venham a ser relevantes ou prioritários na nossa nova realidade administrativa. Por tudo isto o investimento em Cernache do Bonjardim tem de ser efetivo e assertivo. O investimento do Estado é uma dura realidade: uma vez presente projeta as terras para cima, se lhes falta, empurra-as para baixo. Por isso o ensino é tão crucial e decisivo para Cernache do Bonjardim, por ser a âncora que ainda nos sustém.
Desaparecendo, será uma via rápida para a erosão demográfica cuja marcha será muito difícil de inverter. Em 2018, um investimento de cerca de 800 mil euros feito pelo município para que o IVS não encerrasse estancou um problema criado pela então Secretária de Estado da Educação que visava eliminar o ensino particular e cooperativo em Portugal. Todos nós comunidade - pais, professores, alunos, união de freguesias e município, nos unimos então para evitar que o Instituto Vaz Serra encerrasse em Cernache do Bonjardim. Foi duro e dispendioso, mas foi um investimento necessário. Bem sei, todos sabemos, que o assunto não foi definitivamente resolvido. Talvez adiado. Haverá porventura ainda um longo caminho pela frente. Se a sorte não nos acompanhar, Cernache do Bonjardim e o concelho da Sertã, como os conhecemos hoje, ficarão irremediavelmente mais pobres. Eu acredito no futuro e na razoabilidade dos homens. Apesar das vicissitudes, acredito que saberemos encontrar sempre o melhor caminho como aconteceu ao longo da nossa história, para que nos continuemos a orgulhar dessa história ímpar que ostentam o concelho da Sertã e Cernache do Bonjardim.
António José Simões
Deputado Municipal eleito pelo PSD