Opinião: Linha Férrea do Vale da Sertã

“Abandonados pelos planos rodoviários nacionais, pode ser que outros ventos se avizinhem, venhamos a ser contemplados, e não de novo esquecidos, como é costume”

Opinião: Linha Férrea do Vale da Sertã
António JL Simões

António JL Simões

Deputado Municipal eleito pelo PSD

O Plano Rodoviário Nacional 2000 abalou significativamente a estratégia de desenvolvimento do interior do País. A Sertã e o concelho, é ou foi, um centro e um cruzamento de muitas estradas nacionais, fazendo de nós um importante centro rodoviário. Aqui começam, passam e acabam, importantes vias nacionais. EN2, EN237, EN238, EN241, EN244, EN350 (acho que não esqueci nenhuma) e agora o IC8, fazem do concelho da Sertã, tirando os grandes centros, um caso quase único no País.
Um conhecido poeta português escreveu que o “sonho comanda a vida”. Não tenho dúvidas acerca disso como também não tenho dúvidas de que foi esse mesmo sonho que, há mais de um século, levou a que um grupo de homens notáveis do nosso concelho pugnasse pela construção de uma linha de comboio que saindo de Tomar passasse pela Sertã a caminho da Covilhã. Foi um projeto delineado como fundamental para o desenvolvimento desta região e que a concretizar-se teria, com toda a certeza, mudado completamente o rumo da Sertã e dos municípios vizinhos. Será possível imaginar o que seriam hoje vilas como a Sertã, Cernache do Bonjardim, Ferreira do Zêzere ou Oleiros se esta linha de comboio tivesse sido efetivamente construída? A história que envolveu este projeto é semelhante a tantas outras, embora neste caso possamos dizer que a linha de comboio só não chegou à Sertã porque um grupo de políticos, em Lisboa, não conseguiu enxergar mais do que a sua própria ambição, perdendo uma oportunidade única para descentralizar e fomentar a coesão do território. O Parlamento ainda deu luz verde ao projeto, com homens como Abílio Marçal, Domingos Tasso de Figueiredo ou Manuel Martins Cardoso a lutarem afincadamente por este empreendimento. Quando a proposta subiu ao Senado, foi rejeitada a pretexto de não haver dinheiro para a obra. Porque falo nisto hoje? Não o faço para vos entreter com a nossa história, mas porque gostava de lançar um desafio para que comecemos a construir agora a nossa história futura. Há 100 anos, um grupo de homens visionários percebeu o quão importante era este projeto para o nosso Concelho e também nós devemos agora ser capazes de fazer o mesmo. Recentemente, o senhor Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, segundo dizem – um homem do futuro -, lançou o Plano Ferroviário Nacional e pediu o contributo de todos para a definição deste mesmo plano. Enquanto representantes do povo temos o dever de defender os interesses do nosso Município e lutar pelo seu desenvolvimento. Abandonados pelos planos rodoviários nacionais, pode ser que outros ventos se avizinhem, venhamos a ser contemplados, e não de novo esquecidos como é costume. É chegada a hora de voltar a colocar na agenda a construção de uma linha de comboio entre Tomar e a Covilhã, com passagem por cá, aproveitando as intenções de novos projetos de mobilidade. Temos de unir esforços e lutar por este desígnio. Acredito que não será uma batalha fácil, mas não temos de ter medo do que aí vem. Há um século atrás foram feitos estudos, elaborados relatórios, definidos traçados, num trabalho que envolveu especialistas de várias áreas e elementos de grande valia técnica. Lembro aqui, por exemplo, um interessante artigo que o conhecido general Couceiro de Albuquerque publicou a propósito da linha férrea do Vale da Sertã. Dizia ele que a construção desta linha era fundamental para o desenvolvimento da economia e do turismo da região e ainda como elemento estratégico para toda a zona sul da Beira Baixa e também do norte do distrito de Leiria. É absolutamente inquestionável que o comboio é o meio de transporte do futuro. Não há transporte mais amigo do ambiente e quando todos falamos de alterações climáticas, este é um tema que tem toda a atualidade. Não devemos por isso perder esta oportunidade. É fundamental voltar a trazer para a ribalta a discussão sobre a linha férrea do Vale da Sertã. A união de todos é fundamental e este é com certeza um projeto que não interessa apenas à Sertã. Os municípios vizinhos têm muito a ganhar com esta linha férrea. Talvez seja esta a oportunidade que faltava para darmos um abanão e colocarmos a região unida em torno de um projeto mobilizador e fundamental para as próximas gerações. Acho que não preciso de perder muito tempo a falar nas vantagens de termos uma linha férrea a passar por aqui. Contudo, espero que façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para que esta linha figure no próximo Plano Ferroviário Nacional.

Foto: Notícias ao Minuto

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