
Gostaria de evocar, como fiz na sessão da Assembleia Municipal de abril, uma personalidade que partiu recentemente e que foi uma referência na valorização dos feitos e vida de D. Nuno Álvares Pereira e consequentemente de São Nuno de Santa Maria. Essa figura era Alexandre Patrício Gouveia, presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota, falecido em 12 de março, aos 70 anos. Tive o privilégio de o conhecer e com ele ter compreendido ainda melhor a dimensão do maior herói da história de Portugal. A propósito de um filme documental que se propôs produzir para testemunho principal do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, veio pela primeira vez à Câmara Municipal da Sertã por volta de 2018. Desde logo se percebeu que fazia todo o sentido aprofundar relações entre as duas entidades tendo em vista o ponto comum que unem o Município da Sertã e a Fundação Batalha de Aljubarrota – esse ponto de união é Nuno Álvares Pereira. Estava lançada a semente à terra. No tempo possível e nos termos adequados às duas entidades, foi então celebrado um protocolo no qual depositamos fundadas esperanças. Aliás, não longe destes propósitos, se celebrou também entre Município da Sertã e Seminário das Missões, um protocolo convergente e de igual relevância. Estes documentos permitem, por exemplo, que a Fundação Batalha de Aljubarrota possa auxiliar em estudos e pesquisas arqueológicas visando descobrir mais dados e referências históricas. A partir do primeiro encontro, senti em Alexandre Patrício Gouveia que seria para ele fundamental o nosso envolvimento neste seu projeto em torno de Nuno Álvares Pereira. Das longas conversas que tivemos, saliento a fineza, a sua determinação, e uma enorme dedicação aos seus grandes projetos de vida. Era irmão de Teresa Patrício Gouveia, antiga ministra do Ambiente e dos Negócios Estrangeiros, e de António Patrício Gouveia, que morreu com Francisco Sá Carneiro em Camarate. Dedicou parte da vida a investigar as circunstâncias do desastre aéreo de 4 de dezembro de 1980, sobre o qual escreveu um livro, intitulado “Os Mandantes do Atentado de Camarate - o envolvimento americano”. Ofereceu-me um exemplar com uma dedicatória que recordarei. Ficámos de ter mais conversas sobre este assunto - que a mim me marcou a juventude, e a ele lhe levou amigos e um irmão.
Alexandre Patrício Gouveia presidiu à administração da Fundação Batalha de Aljubarrota desde o seu início. por decisão de António Champalimaud, seu fundador. Dedicou-se, com gosto e grande rigor, à recuperação e divulgação dos principais campos de batalha associados à Guerra da Independência e à Guerra da Restauração, em especial o campo da Batalha de Aljubarrota, proporcionando aos portugueses, a turistas e a investigadores, o melhor conhecimento dos acontecimentos históricos que cimentaram a independência de Portugal. O CIBA – Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota é um bom exemplo da sua ação e revela-se muito importante no estudo e divulgação da obra militar de Nuno Álvares Pereira. Deve ser visitado. Situa-se nas imediações da Capela de S. Jorge. É sua criação recente, o seu livro “D. Nuno Álvares Pereira - o início da crise de 1383-85 e a Batalha dos Atoleiros”, lançado em março deste ano. Falei-lhe no meu interesse em conhecer melhor e com outro rigor a espada de D. Nuno. É um assunto pouco tratado e penso que seria importante e potenciador também em termos de turismo militar. A exemplo da Excalibur do rei Artur que tanto inspirou o jovem Nuno, teria para nós grande interesse simbólico. Achou a ideia interessante. Ficou por acontecer o encontro entre nós e o Prof. João Gouveia Monteiro, da Universidade de Coimbra, grande especialista português em história militar, também ele próximo da Fundação e autor de recente obra sobre as várias facetas do Condestável. De uma imensurável admiração por Nuno Álvares Pereira e devoto de São Nuno de Santa Maria, Alexandre Patrício Gouveia foi um dos dois portadores da relíquia de Nuno Álvares Pereira na cerimónia da sua canonização, no Vaticano, em 26 de abril de 2009. Inspirou-nos a percorrer um novo caminho nesta causa condestabriana. Um caminho talvez mais rigoroso, porventura mais persistente, mas sobretudo mais humilde e com muito mais ambição. Fica a minha singela homenagem a alguém de quem sentirei falta e com quem gostaria de ter percorrido, como combinámos, os campos que glorificaram os feitos do maior Herói de Portugal.
António JL Simões
Deputado Municipal do PSD