
Por Vila Velha de Ródão a política que se segue há vários anos é a de fixar pessoas e tentar inverter o conceito de que este é um concelho envelhecido. Através de apoios à natalidade, à reabilitação de habitações e venda de casas a preços controlados, a autarquia tem conseguido atrair gente e criar ou manter os empregos existentes.
Em entrevista à Rádio Condestável o presidente da câmara municipal, Luís Pereira, garante que esta é a metodologia a seguir, uma vez que estão a ser colhidos bons frutos das ações até agora tomadas. O autarca apenas considera que devia haver mais atenção por parte da Administração Central para com os municípios do interior.
Transcrevemos de seguida um pequeno excerto de uma entrevista mais longa que está disponível em Podcast. Para escutar clique AQUI
Rádio Condestável (RC): Em 2014 Vila Velha de Ródão foi considerado o concelho mais envelhecido da Europa. Como é que, passados estes anos, se vive com este carimbo?
Luís Pereira (LP): É um carimbo que de alguma forma é genérico dos concelhos do interior. Não exclusivo do concelho de Vila Velha de Ródão, é também já uma preocupação a nível nacional, mesmo nas grandes cidades e é algo a que temos de olhar de forma global, tanto naquilo que são sociedades modernas e nos problemas que enfrentam ao nível da demografia e da natalidade.
É óbvio que em Vila Velha de Ródão, naquilo que é a parte da estratégia da autarquia, a inversão desta tendência é uma das linhas fundamentais. Os municípios têm os recursos que têm e não é fácil, só com as suas políticas locais, fazer essa inversão. Há que ter aqui uma coordenação entre as políticas nacionais e locais. A nível local temos feito a nossa parte e os resultados estão à vista. Nos últimos censos, a freguesia de Vila Velha de Ródão já não perdeu população e tem um claro rejuvenescimento da mesma. Nas outras três freguesias ainda não conseguimos estender esta situação, mas já é um bom sinal. E tem muito a ver com aquilo que a câmara municipal tem feito na captação de investimento privado, no fomento do emprego e nas políticas de apoio à fixação das pessoas. Hoje Vila Velha de Ródão tem um claro rejuvenescimento da população porque nos últimos 12 anos conseguimos criar aqui mais de 500 postos de trabalho, o que levou a que muitos dos jovens viessem trabalhar para cá e que muitos desses jovens começassem também a fixar-se. Isso tem sido possível com uma articulação com um conjunto de políticas de apoio à fixação de pessoas, que tem estado a dar bons resultados. Um dos barómetros que, há algum tempo, nos vem dizer que estamos na linha certa, é o número de crianças que temos no agrupamento de escolas. Nos últimos dez anos temos um acréscimo de aproximadamente 70 crianças. Na creche de Vila Velha de Ródão tínhamos, nos últimos anos, procedido à desafetação de pessoas porque tínhamos poucas crianças, hoje temos lista de espera e este ano vamos fazer a requalificação do antigo edifício da escola primária Nº1 de Vila Velha de Ródão para uma creche, num investimento de 800 mil euros, porque a creche que está a funcionar na Santa Casa da Misericórdia já não tem capacidade para dar resposta e para receber mais crianças.
RC: Há então sinais de que Vila Velha de Ródão está a inverter a tendência do envelhecimento?
LP: Sim, mas obviamente que há também necessidade de, a nível da Administração Central, haver políticas que incentivem a natalidade, que incentivem os jovens a ter filhos, porque se não houver essa coordenação de políticas, os esforços das câmaras municipais tenderão a ser enormes e não alcançarão aqueles resultados que se pretendem e que são necessários para rejuvenescer a pirâmide etária.
RC: Se está a ser possível recuperar o défice de população na sede de concelho, como se faz isso nas outras freguesias do concelho?
LP: Nas outras freguesias é possível fazer, mas claramente que o esforço que é pedido tem de ser acompanhado de recursos da Administração Central. Pode ser feito em várias áreas nomeadamente na área do apoio à requalificação de habitações. Nós temos hoje muitas casas que estão abandonadas e seria interessante termos um programa que permitisse às pessoas requalificar essas casas, nem que fossem de segunda habitação, para as pessoas que se reformam pudessem vir até ao concelho. Essa seria uma medida que eu penso que teria resultados extremamente interessantes. Hoje as famílias têm muitas dificuldades. Percebemos que há pessoas que cá nasceram, foram trabalhar para o litoral, têm aqui as suas casas e uma afetividade ao território, mas infelizmente não têm os recursos necessários para as requalificar. Mas se houvesse um programa a nível nacional que permitisse requalificar essas habitações evitando assim que entrassem em ruinas, seria um passo para essas pessoas virem.
A carga fiscal que temos é desincentivadora destes investimentos. Bastaria o Governo ter uma política fiscal diferente e através de alguns incentivos fiscais promover a reabilitação destas casas. Estou convencido que muitas pessoas iriam regressar ou pelo menos requalificar.
RC: Existe um novo conceito, trazido pela pandemia que é o teletrabalho. Também pode ser um chamariz de pessoas para o interior?
LP: É uma realidade nova à qual temos estado atentos. Temos hoje muitos jovens que já podem estar aqui a trabalhar e para qualquer parte do mundo, mas para isso é necessário infraestruturas. Nós já temos linha de fibra ótica em parte da freguesia de Vila Velha de Ródão e na totalidade da freguesia de Perais mas Sarnadas de Ródão e Fratel ainda não têm essa importante infraestrutura. É algo que temos estado a tentar conseguir para que essas duas freguesias, e a parte que falta da freguesia de Vila Velha, tenha essa infraestrutura. Estamos convencidos que, estando a cem por cento no concelho, é mais um argumento para que as pessoas venham, porque com a pandemia temos situações de casais que estavam a viver em Lisboa e que entraram em teletrabalho. Puderam instalar-se nas casas que cá tinham e estão a trabalhar. Muitos desses já reabilitaram as casas e ficaram por cá definitivamente. Há aqui um conjunto de situações que penso que seriam possíveis de se concretizar e possibilitar às pessoas fixarem-se no interior. Mas para isso teria de haver, da parte da Administração Central, uma política, por exemplo, através da via fiscal ou através de concessões de incentivos à fixação das pessoas, inclusive com um IRS diferenciado, para as pessoas que vêm para cá trabalhar.
RC: A câmara tem lançado alguns programas no sentido de requalificar habitações.
LP: Sim. Nós temos lançado alguns programas nesse sentido. Ao nível da reabilitação das casas já tínhamos um apoio que ia até aos 2.500€, este ano já o subimos até 4.500€. Uma pessoa que compre uma casa para requalificar e residir de forma permanente em Vila Velha de Ródão já tem aqui um incentivo substancial. E depois temos também o apoio às creches, uma vez que a frequência é gratuita, isto independentemente de ser na sede de concelho ou nas freguesias. Há aqui que olhar para o interior com algum cuidado, com alguma ambição e com algum arrojo do ponto de vista da coordenação de políticas locais e nacionais, por forma a que nós consigamos ter resultados diferentes e incentivar as pessoas a fixarem-se no interior.
RC: Não havendo casas para estas pessoas que se querem fixar, a câmara também apoia.
LP: Essa tem sido uma das linhas estratégicas do município. Concluímos, o ano passado, a construção de 18 fogos na Quinta da Torre Velha. Foi um esforço significativo para o município porque não foi possível candidatar o projeto a fundos comunitários e fizemos esse esforço com capitais próprios. Estamos a falar, entre infraestruturas e construção de casas, num investimento que ultrapassou os dois milhões de euros. Consubstanciou-se na construção de 14 moradias T3 e quatro T2. Vendemos o T3 a 80 mil euros e o T2 a 66 mil, imputando apenas custos de construção. Foram todas vendidas e agora estamos a proceder a uma segunda fase desse loteamento junto ao cemitério em Vila Velha onde vamos construir mais cerca de 20 moradias, T3 e T2, na mesma perspetiva de imputar apenas os custos de construção. Será mais um grande esforço do município mas pensamos que esta é a forma de atrair pessoas. Temos investimento e criação de emprego por parte dos privados e da parte da câmara conciliamos esse emprego com a possibilidade das pessoas se poderem alojar em habitações condignas e a preços atrativos. Estamos a colher indicadores extremamente gratificantes.