SERTÃ/100 dias: Afirmar o concelho como polo de inovação e desenvolvimento no centro

São várias as apostas às quais o presidente da Câmara Municipal da Sertã quer começar a dar corpo em setores como o turismo, a cultura e a economia. Antes, há que executar obras importante iniciadas no executivo anterior. Um processo que se quer célere, em prol do desenvolvimento do concelho da Sertã.

SERTÃ/100 dias: Afirmar o concelho como polo de inovação e desenvolvimento no centro

O executivo liderado por Carlos Miranda, que venceu as eleições do passado dia 26 de setembro de 2021 na Sertã, está apostado em “afirmar o concelho como polo de inovação e desenvolvimento na Região Centro e pretende criar um território atrativo, que tenha qualidade de vida e oportunidades de emprego para as pessoas, no fundo, um território que se destaque na Região Centro".
Substituir o conceito de interioridade pelo de centralidade é um dos desígnios pelos quais o presidente da câmara vai lutar, tentando consegui-lo através dos inúmeros projetos que anseia começar a colocar no terreno, seja a nível turístico, cultural, empresarial ou de proximidade para com as pessoas.
Num território com tantas potencialidades, há que, em alguns setores, começar quase do zero e implementar uma marca própria. Essa deverá começar a aparecer dentro em breve.

Transcrevemos de seguida um pequeno excerto de uma entrevista mais longa que está disponível em Podcast. Para escutar clique AQUI.

Rádio Condestável (RC): Qual foi o seu percurso profissional e político até chegar a presidente da Câmara Municipal da Sertã?
Carlos Miranda (CM): Profissionalmente as pessoas sabem que estive sempre ligado ao ensino. Fui, durante muitos anos, diretor do Instituto Vaz Serra. Tive também algumas experiências ao nível empresarial. Politicamente estou na vida política na Sertã, com cargo, na Assembleia Municipal (AM) desde 2001, fui deputado municipal, secretário e mais tarde presidente da AM. Fui vereador sem pelouro na CMS, sou presidente da Comissão Política Concelhia do PS, faço parte do secretariado da Comissão Política Distrital do partido. Tenho um percurso político de cerca de 20 anos na região que me levou a esta candidatura e que me trouxe a este cargo de presidente.

RC: Ser vereador e presidente tem as suas diferenças…
CM: Sim, mas quer o cargo de deputado e de vereador, mesmo sem pelouro, são cargos com muita importância e dignidade. Permitem-nos ter uma ideia do funcionamento da câmara e preparam-nos para alguns temas e projetos que são fundamentais da câmara municipal. Não entro completamente em branco dada a experiência que já tenho mas temos que reconhecer que, uma coisa é acompanhar de fora, outra é estar por dentro e ter que conduzir a máquina. Qualquer organização tem os seus regulamentos e procedimentos e isso varia de organização para organização. No caso da câmara da Sertã trata-se de um máquina pesada e complexa. Venho do setor privado mas a máquina do Estado é muito diferente. O que mais me surpreende é a complexidade e lentidão dos procedimentos, não porque as pessoas não queiram fazer, mas porque os próprios procedimentos implicam que as coisas avancem de forma muito lenta, com prazos e um conjunto de passos a fazer. É mais lento que no setor privado.

RC: Que balanço faz destes primeiros três meses e meio?
CM: É bom que as pessoas percebam que são apenas três meses e meio. E às vezes dá-me a sensação que já estou há mais tempo. Tento explicar às pessoas que não se pode exigir que se resolvam, em poucas semanas ou meses, problemas que têm décadas e há outros que nem é possível resolver. Nestes primeiros dias o primeiro passo foi conhecer a casa, os procedimentos e organizar os serviços de acordo com o que era a nossa visão. Não foi uma reorganização profunda mas a que achámos necessária para que as coisas funcionem melhor. Tomámos posse num momento delicado para uma autarquia, ou seja, o momento de elaborar o orçamento para o próximo ano. Tenho reunido com pessoas, instituições e empresas do concelho e de fora dele. Já fiz mais de 200 reuniões neste período de tempo e tive muitos contactos com instituição supra municipais.

RC: Há projetos que vieram do executivo anterior que não vai deixar cair. Qual o ponto de situação da obra da Escola Secundária da Sertã?
CM: Alguns desses projetos estavam associados a candidaturas. Eram projetos que se arrastavam há algum tempo na câmara, com concursos lançados que ficaram vazios e houve aqui que tomar decisões rápidas para fazer uma reprogramação dessas candidaturas para não perder algum financiamento que estava associado e lançar concursos com a máxima urgência para que pudéssemos, perante as autoridades, dizer que estávamos já a trabalhar nesses projetos e para não perder as verbas associadas às candidaturas. Tivemos que lançar concursos com preço base muito superior àquele que tinha servido para o cálculo dos financiamentos a atribuir pelas candidaturas aos fundos comunitários. Se não o fizéssemos iríamos ter novamente os concursos desertos, o que significa que vamos ter financiamento para alguns destes projetos. Mas em termos percentuais esse financiamento vai ser muito inferior ao que estava inicialmente determinado porque tivemos que colocar a concurso por preços muito superiores. Tem a ver com a conjuntura, já que as matérias primas subiram de preço.
Isto vai fazer com que o esforço que a câmara terá que fazer em termos de orçamento seja muito maior do que aquele que estava inicialmente previsto. Assumimos isto porque considerámos que eram coisas importantes e uma delas é a segunda fase da obra da Escola Secundária da Sertã, o seu reforço estrutural. O concurso foi feito, neste momento temos o contrato assinado e está no Tribunal de Contas para se poder avançar. O mesmo se passa com a obra da requalificação da Zona Industrial da Sertã. Duas candidaturas que havia para a Praia Fluvial do Troviscal também estão em fase de resolução. Aproveitámos para lançar um concurso para requalificação do Largo Dr. Guimarães pois foi possível ir buscar um reforço de verba do PARU e estamos a elaborar a candidatura, mas já avançámos com o concurso e já temos empresas concorrentes. É uma obra que avançará rapidamente. Nestas quatro situações falamos em 4 milhões de euros.

RC: E sobre os Mercados Municipais da Sertã e de Cernache do Bonjardim?
CM: No Mercado Municipal da Sertã, quando fomos verificar a quem tinham sido atribuídas as lojas e que atividade iria ser desenvolvida verificámos que a potência (elétrica) atribuída a essas atividades não seria suficiente para que pudessem funcionar. Estamos a falar de atividades com grande consumo elétrico e foi necessário pedir um reforço de potência à EDP e é isso que está a atrasar a abertura do mercado. Assim que a situação estiver resolvida avançaremos para a abertura do Mercado Municipal da Sertã. Relativamente a Cernache do Bonjardim, temos duas obras prioritárias para nós. Primeiro o Smart Work Place. É uma obra que vai ser feita a partir do antigo edifício dos CTT. Vai servir para incubação de empresas na área tecnológica e teletrabalho. Enquanto autarca na oposição era algo que vinha a reclamar há muitos anos para Cernache. Para mim é a obra prioritária e vai avançar muito em breve. Quanto ao mercado municipal é também uma obra para avançar com alguma brevidade. Estamos a fazer uma revisão orçamental para inclusão do saldo de gerência e vamos ver o que podemos fazer para avançar durante o presente ano.

RC: E no setor do turismo, há aqui muito por onde trabalhar?
CM: Se tivesse que dizer quais são as nossas prioridades em termos de desenvolvimento colocava em primeiro lugar as novas tecnologias e a indústria criativa com a criação do Smart Work Place, alargar o espaço de incubação no Centro de Inovação e Competências da Sertã (SerQ) para termos espaço para a instalação de novas empresas, ou para que pessoas em trabalho remoto se possam instalar. Outra área é a do turismo e esta tem que se alicerçar em quatro pontos: o turismo de natureza – água e daí a nossa preocupação face ao estado em que temos as nossas albufeiras. A gastronomia e as tradições também têm que ter um lugar fundamental. Muitas pessoas nos procuram por esses motivos e temos que continuar a apostar e a valorizar. A figura de Nuno Álvares Pereira e o turismo religioso também têm que ser uma aposta nossa e estou a trabalhar nessa área. Temos também a Estrada Nacional 2 (EN2), uma mais-valia que temos que explorar e é um projeto determinante em todo o país e que traz muitas pessoas ao interior. Temos que ser capazes de fazer com que as pessoas parem na Sertã.
Outra área fundamental para nós é a dos produtos endógenos e do setor florestal. Essa aposta tem que ser feita com inovação e ao nível do marketing e a câmara vai apoiar o setor primário e quem queira produzir produtos endógenos. Vamos apoiar também com canais de comercialização. Espero que dentro de alguns anos possamos ter uma grande quantidade de produtores a trabalhar com qualidade e a ganhar dinheiro com os seus produtos.

RC: Relativamente ao turismo religioso, foi assinado um protocolo entre o Seminário da Boa Nova, a câmara e a União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais. Já se inteirou sobre este assunto?
CM: Estou muito ansioso por agarrar nesse assunto. Infelizmente ainda não foi possível. Quero ver até onde podemos ir. Não tenho dúvidas que o seminário pode ter um papel muito relevante no desenvolvimento, em concreto, desta união de freguesias e também do concelho.

RC: Como está o processo de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM)?
CM: Temos aqui um problema tremendo para resolver. Vamos começar a revisão do PDM, ponto. Vamos começar partindo de algum pouco trabalho que foi feito. Já vimos que há uma ou outra coisa que se pode aproveitar mas temos que começar muito de trás e, num tempo recorde, conseguir ter o PDM cá fora. Tem trazido alguns constrangimentos, sobretudo a particulares e empresas da área da construção que querem construir.

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